Atenção! Os adolescentes estão bebendo mais
- Débora Palma
- 19 de jun. de 2019
- 3 min de leitura
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Os jovens estão bebendo mais. Aliás, as mulheres estão bebendo mais do que os homens. A ingestão precoce (até os 16 anos) de bebidas alcoólicas, seja sob o olhar dos pais, seja fora do ambiente doméstico, é motivo de preocupação.
Estudo realizado pelo Centro de Informações sobre Saúde e Álcool (Cisa), com base em dados do IBGE, mostrou que 25,1% das garotas com idade entre 13 e 15 anos bebem ao menos uma dose por mês - há uma década, eram 20%. Entre os garotos, o índice é de 22,5% - dez anos atrás, batia nos 28%. A mudança ilumina um novíssimo problema: elas bebem mais do que eles. Nossos índices ultrapassam os dos Estados Unidos: entre os americanos com idade até 15 anos, o consumo não passa dos 10% para ambos o sexo, de acordo com o Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos.
A porta de entrada para o consumo são as bebidas mais doces, gaseificadas - e baratas. Isso porque são mais palatáveis ao paladar dos jovens, que sentem o amargo com mais intensidade (e, por isso, não apreciam alguns tipos de bebida que os adultos). É apenas por volta dos 20 anos que o paladar está preparado para apreciar todos os sabores - da cerveja ao destilado sem a adição de açúcar.
A pesquisa do Cisa revelou que a meninada começa a beber aos 12 anos e meio - e os riscos para a saúde são imensos, pois os órgãos ainda estão em formação, em especial o cérebro, a caminho da organização neuronal. Quem começa a beber regularmente aos 15 anos tem cinco vezes mais chance de desenvolver dependência alcoólica do que quem começa a beber aos 21. E nessa de beber, as meninas se dão mal: como o organismo feminino tem menores quantidades de enzimas responsáveis pela metabolização do álcool, a substância demora mais tempo para ser eliminada.
Infelizmente, o acesso ao álcool é facilitado por diversas circunstâncias:
Pais que dão aval ao o consumo - e que geralmente preferem que seus filhos bebam em casa do que fora dela;
Documentos de identidade falsificados (o valor de um documento alterado vai de 150 a 300 reais);
A facilidade na hora de comprar as bebidas (nem todos os lugares fiscalizam a compra de álcool), apesar de a legislação proibir a venda para menores de 18 anos.
Um dado interessante:
Em 2012, o Hospital Albert Einstein inaugurou um programa pioneiro nos cuidados de adolescentes: o paciente com idade até 16 anos que dava entrada pelo pronto-socorro por causa de álcool passava por um protocolo especial. Além de o jovem receber atendimento clínico, ele e os pais eram orientados sobre os riscos do consumo de bebidas na adolescência. O serviço fechou quatro anos depois. O motivo? A maioria dos pais refutou o programa - ou porque eles não queriam falar do assunto ou porque negavam o problema do filho.
Diz o psiquiatra Ronaldo Laranjeira, da Universidade Federal de São Paulo, especialista no tema: “Não há uma causa para o aumento do consumo de álcool entre os adolescentes. Há varias. Pais omissos, venda facilitada de bebidas e, no caso das meninas, para piorar, a ilusão de que, se beberem, estão se equiparando socialmente aos homens”.
Que a gente aprenda a ter a responsabilidade - tanto pela ação quanto pela inação. Afinal, são estes jovens para os quais damos as costas que nos sucederão como geração. Eles merecem o acolhimento e a orientação necessários para que possam tomar melhores decisões, conhecendo seus limites e suas possibilidades.
Fonte: Veja - 19/jun/2019. Ed. 2639
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