Livros que transformam e a importância de ler para crianças
- Débora Palma

- 12 de out. de 2020
- 4 min de leitura
Há algum tempo, em um passeio do shopping, vi uma menina soltar as mãos dos pais e correr, gritando de felicidade, em direção à uma livraria. Olhando para aquela cena, lembrei da minha infância - uma infância cheia de livros, com livros sendo presenteados em todas as ocasiões comemorativas: no meu aniversário, no Dia das Crianças e no Natal. Meus livros eram coisas preciosas, que eu idolatrava. Eram categorizados por título e eu raramente os emprestava para outras crianças, apesar de não me recusar de ler para elas ou contar a história do meu jeito! Para mim, aquele processo de leitura me tornou uma adulta ávida por ler muito - e sobre assuntos cada vez mais diversos. Pois é… é isso o que um livro nos causa: desejo de conhecer mais, de se ler mais, ainda que esse pareça um processo infinito - e é, por isso também precisamos da habilidade de identificar que não saberemos de tudo. Já pensei em viver milhares de anos para poder passar mais tempo lendo. Como não dá, me comprometo a ler todos os dias, e a incentivar que pais leiam mais para seus filhos. E que, se possível, os pais desenvolvam o hábito de leitura em suas casas. Ler transforma vidas, traz oportunidades de imaginação e criação. Cientificamente, estimula cognitiva e afetivamente as crianças, tornando-as mais aptas a enfrentar desafios contínuos em um mundo em transformação, que solicita atenção fragmentada a todo momento, o que dificulta a arte de pensar com clareza e objetividade.
É frequente os pais se questionarem que tipo de estímulos devem oferecer a seus filhos para contribuir com seu desenvolvimento humano. A contação de histórias permite o estímulo do raciocínio e da imaginação, em que as crianças são lançadas para universos diferentes e expostas a situações imaginárias que estimulam seus pensamentos.
Um dos estudos mais abrangentes (e atuais) sobre o poder da leitura sobre os pequenos veio do hospital de Cincinatti, nos Estados Unidos. A pergunta que os pesquisadores buscaram responder foi: quais incentivos, afinal, provocam positivamente a mente da criança. Por isso, em seu experimento, um grupo de crianças entre 3 e 5 anos foi monitorado por ressonância magnética em três situações distintas, nas quais era apresentada a mesma história gravada: primeiro apenas escutava a fita, depois junto com ela assistia à animação da história na TV e, por fim, as imagens eram projetadas sem movimento nenhum, simulando um livro. Os pesquisadores queriam saber em que cenário das cinco regiões mais fundamentais do cérebro se conectavam. A resposta: animações em demasia agitam demais a mente, freando a ligação entre os neurônios; o áudio puro e simples pouco ativa e mente; já a imagem parada foi disruptiva: como a criança era obrigada a exercitar a imaginação, a conexão entre os neurônios é fortalecida, formando uma rede.
A leitura feita pelos pais funciona como uma alavanca potente, especialmente no começo da vida. Na fase que vai dos primeiros meses à alfabetização (quando a criança já ganha autonomia para explorar livros), o cérebro realiza sinapses como em nenhuma outra fase da vida - daí a importância de estabelecer uma rotina de leitura desde cedo. O desenvolvimento cognitivo, social e emocional acontece muito rapidamente para as crianças que têm pais que leem para elas. E melhor ainda, é claro, se os pais são leitores assíduos ou em casas onde há livros à disposição.

O hábito da leitura é essencial para ampliar o repertório linguístico, construir a habilidade de transmitir ideias e sedimentar laços entre os pais e seus filhos. A Sociedade Brasileira de Pediatria passou a recomendar aos próprios médicos que receitem livros para ser devorados em família. A atividade de leitura, é claro, precisa oferecer aos pais e seus filhos o desfrute do tempo passado juntos naquele momento de aprendizado e conexão. Pode ser uma boa ideia perguntar à criança que tipo de livro ou história mais gosta, para reforçar o hábito de leitura. Esta é também uma boa oportunidade para estreitar vínculos e corroborar com o desenvolvimento humano dos filhos. Os resultados são sentidos em muitos aspectos: melhora do vocabulário, construção correta de sentenças, interesse pela leitura, formação de base para o pensamento lógico e a produção de textos. Aos poucos, a criança vai solidificando esquemas conceituais e se destacando nos estudos ou em suas atividades diárias.
Para a neuropsicóloga Rochele Paz Fonseca, da PUC-RS, a leitura traz resultados menos previsíveis: "Além de tirar notas 15% mais altas, as crianças que tomam contato cedo com os livros se convertem em adultos mais capazes de administrar o tempo e com melhor saúde mental".
Algumas formas de tirar proveito dos momentos de leitura intrafamiliar:
Escolher um ambiente calmo e em horário que for bom para todos.
Estabelecer uma rotina de leitura.
Evitar distrações e interrupções (agora não é hora de usar o celular)
Fazer perguntas no fim da história ou do capítulo.
Estimular perguntas da criança após a leitura.
Discutir sobre os livros que a criança está lendo e entender quais os seus interesses.
A leitura é uma ótima oportunidade para abrir as portas do saber e ampliar os horizontes das crianças. No caso das mais pobres, a leitura é ainda mais essencial, pois lhe apresenta um mundo com muito mais possibilidades. O hábito criado em família vai passando de geração para a geração, o que é fundamental para construirmos como sociedade um futuro de melhores oportunidades por meio de posicionamentos críticos e bem elaborados.
REFERÊNCIA
Horowitz-Kraus T, Hutton JS. Brain connectivity in children is increased by the time they spend reading books and decreased by the length of exposure to screen-based media. Acta Paediatr. 2018 Apr;107(4):685-693. doi: 10.1111/apa.14176. Epub 2017 Dec 27. PMID: 29215151.


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