Meu filho aprontou! Devo puni-lo ou reforçá-lo?
- Débora Palma

- 6 de nov de 2020
- 3 min de leitura
É comum os pais se questionarem como disciplinar seus filhos e, em especial, as crianças. A disciplina implica em métodos para moldar o caráter e ensinar autocontrole e comportamento aceitável. Ainda que existam diferenças culturais e que com certeza moldam a forma como crianças são criadas e ensinadas, existem algumas formas disciplinares que podem ser utilizadas:
Reforço ou punição?
Os filhos geralmente aprendem mais com um reforço do que com uma punição para o bom comportamento. Os reforços externos podem ser tangíveis (divertimentos, mais horas de brincadeiras) como intangíveis (sorriso, palavra de elogio, abraço, mais atenção). Qualquer que seja o reforço, a criança deve vê-lo como uma recompensa e deve recebê-lo de modo razoavelmente coerente depois de apresentar o comportamento desejado. Eventualmente, o comportamento deve fornecer um reforço interno (sensação de prazer ou realização).
Quando posso aplicar a punição?
Quando a criança se expõe a riscos (como atravessar uma rua sem olhar ou se aproximar de um cão agressivo). Para que a punição tenha sentido, ela deve ser coerente e ocorrer de forma imediata à situação ocorrida. Além disso, deve ser administrada de forma individual e com calma, para induzir a criança à obediência, não culpa. O ideal é evitar discursar longamente. Seja objetivo e exponha seu argumento de forma simples.
Já a punição severa pode ser prejudicial. Crianças que são punidas severamente frequentemente podem ter problemas para interpretar ações e palavras das outras pessoas, e podem ver intenções hostis onde elas não existem. Podem se tornar acanhadas e com medo de interações, podendo agir com agressividade. Além disso, agindo dessa forma, os pais rompem possibilidades de diálogo e conexão com seus filhos, que podem adotar comportamentos evitativos em relação a eles.
Castigo corporal
Implica em uso de forca física com intenção de causar dor na criança, e não ferimentos, de modo a corrigir ou controlar o comportamento infantil. Pode incluir tapas, beliscadas, beliscões, sacudidas (podem ser fatais para bebês), dentre outras agressões físicas. Popularmente, acredita-se que o castigo físico é mais eficiente do que outros métodos, por incutir respeito pela autoridade dos pais, e inofensivo, se aplicado de forma branda. Entretanto, uma série de evidências demonstra que este é um método contraproducente. Além do risco de ferimento, as crianças que sofrem castigo corporal podem não conseguir internalizar mensagens morais, desenvolvem relacionamentos intrafamiliares pobres e apresentam agressividade física ou comportamento antissocial aumentador, além de ter sido associado negativamente ao desenvolvimento cognitivo. Além disso, não há uma linha clara entre espancamento leve e severo, e um frequentemente leva ao outro. Crianças que vivem em ambientes domésticos nos quais há abuso (físico ou emocional) têm mais probabilidades de serem espancadas.
As crianças aprendem por meio dos padrões dos pais (ou cuidadores): em seus estudos, Dante Cicchetti, da Universidade de Minnesota, verificou que crianças de famílias abusivas têm mais probabilidade de responder ao choro de um colega com agressividade ou afastamento do que crianças de famílias amorosas, que têm mais probabilidade de tentar consolar seu colega ou de chamar a professora.
O Comitê sobre os Aspectos Psicossociais da Saúde Infantil e Familiar da Academia Americana de Pediatria recomenda reforço positivo para encorajar comportamento desejados e repreensões verbais, castigos (isolamento breve para dar à criança a chance de se acalmar), ou retirada de privilégios para desencorajar comportamentos inadequados – tudo dentro de um relacionamento saudável dentro da família e do estabelecimento de vínculos positivos e sustentadores.
Técnicas indutivas
Técnicas disciplinares destinadas a induzir o comportamento desejável por apelo à racionalidade e ao senso de justiça da criança. Estabelecer limites, demonstrar as consequências lógicas de uma ação, explicar, discutir, negociar e obter ideias da criança sobre o que é justo. As técnicas indutivas são geralmente o método mais eficaz para conseguir que as crianças aceitem os padrões parentais.

Afirmação de poder
Estratégia disciplinar destinada a desencorajar comportamento indesejável por meio da aplicação física ou verbal do controle parental. Inclui exigências, ameaças, retirada de privilégios, palmadas e outros tipos de castigo.
Retirada do amor
Estratégia disciplinar que envolve ignorar, isolar ou mostrar desagrado por uma criança. Nenhuma das técnicas acima é tão eficaz quanto o raciocínio indutivo.
A eficácia da disciplina parental pode depender de até que ponto a criança entende e aceita a mensagem parental, cognitiva e emocionalmente. Para a criança aceitar a mensagem, ela tem de reconhecê-la como apropriada; portanto, os pais precisam ser justos e precisos, além de objetivos e coerentes sobre suas expectativas. A forma como a criança aceita um método disciplinar também pode depender se o tipo de castigo é aceito na cultura onde vive. As crianças interpretam e respondem à disciplina no contexto do relacionamento com os pais.
Referências
PAPALIA, Diane E. Desenvolvimento psicossocial na segunda infância. In: PAPALIA, Diane E. Desenvolvimento humano. 12 ed. Porto Alegre: AMGH, 2013. cap. 8, p. 282-313.
MINAYO, Maria Cecília de Souza. Violência contra crianças e adolescentes: questão social, questão de saúde. Rev. Bras. Saude Mater. Infant., Recife , v. 1, n. 2, p. 91-102, ago. 2001. Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1519-38292001000200002&lng=en&nrm=iso>. Acessado em 06 nov. 2020. https://doi.org/10.1590/S1519-38292001000200002.


Comentários